As vezes me pergunto em desgraça:
-Conseguiria viver sem teu sangue como vivo sem água?
Será que conseguiria viver sem teus sonhos e lembranças a cada vez que meus dentes penetram tua carne, e tudo vem a mim como um dia o sol já o fez, esquentando-me.
Raros se tornaram os momentos em que me senti feliz e viva, apesar de dentro de mim não haver mais uma alma.
É inevitável não te amar.
Parece até mais uma história trágica que com o passar dos anos tornou-se uma lenda urbana.
É inevitável não chorar lágrimas de sangue que eu de ti bebi. Está tudo entranhado, enterrado junto com um passado que nem parece ser meu.
É inevitável vozes e sussurros não me atormentarem, não me estilhaçarem de dentro para fora como se eu fosse capaz de sentir, de sofrer...de sangrar por elas.
É inevitável e nada mais do que a desgraça de viver morta entre os vivos. Esse é o meu castigo e, é inevitável.