Deixe-me viver.
Deixe-me respirar.
Deixe-me ser o que sou.
Um ser que renega a luz, mas abraça a escuridão com amor.
Um ser que não distingue bem ou mal, simplesmente não os reconhece, pois em meu peito nada existe.
Nem mesmo um coração.
Um culpado não existe, apenas o condenado.
Eu.
Eu que fui culpado por amar e, por amor fui condenada pela luz a ser, eternamente, envolvida pela escuridão.
Somente, lembro-me de uma voz que irrompia do céu, adentrava minha mente e dizia- eu te condeno a vagar solitária pelos séculos que virão.
Braços envoltos por fumaça negra me envolveram e me jogaram no abismo do mundo.
Não pude lutar.
Não pude me defender.
Eu caí então.
Minha alma me abandonou.
Meu coração foi arrancado do meu peito e jogado num buraco sem fundo.
Estive fora do tempo e do mundo, e só voltei quando almas não pertencentes a mim, adentraram meu corpo e forçaram-me a seus desejos.
Olhos meus, antes azuis como o céu, abriram-se para o mundo como gotas de sangue.
Uma expressão antes feliz, agora era sombria e triste como o sorriso de gelo que carrego em meus lábios pálidos.
Então, somente, deixem-me viver.
Deixem-me viver para pagar por aquilo que fui condenada.
Eterna e maldita sou o que sou.
Deixem-me viver, nem que seja pela sombra mórbida e triste que segue-me, mas também proibida de tocar-me.
Ela seria minha salvação.
Uma última chance de perdão.
Afinal, nada mais me resta, a não ser viver eternamente amaldiçoada.