Na cruz da estrada morta ficou marcado o meu pecado.
O pecado de desejar o sangue do próximo como a uma dádiva celestial.
Na cruz da estrada morta me abri em braços desconhecidos em busca de perdão.
Um perdão que fosse capaz de aliviar a pulsação turbulenta da mistura de vários sangues em um único corpo.
Em meu corpo.
Pecado e perdão que desafiam vida e morte de seres como eu, provido de todos em mim, mas sem entender o porquê.
Seres como eu, sem alma, mas que vivem da alma dos outros pelo jorrar doce e suculento de seu sangue escorrendo em minhas veias.
Nas noites frias, eu me ajoelho e reza para um Deus que nem sei se me ouve, mas que ainda assim, eu peço misericórdia.
Nas tardes nubladas, que nem sei se realmente são tardes ou noites esquecidas em meio a neblina, eu saio em busca daquilo que me destrói. Que me alimenta. Que me sucumbi aos pesadelos, mas que me mantém viva.
O sangue.
O teu sangue.
A minha vida é teu sangue.