Muitas lágrimas já rolaram por nossa causa, em várias camas.
Muitos sonhos já se perderam na torrente maligna que nos precede. Mas, sinceramente, não voltaria atrás se assim pudesse, afinal, eles me mataram primeiro e tenho a plena certeza de que não hesitariam em fazê-lo de novo.
Depois de tantos anos amaldiçoados só o que resta é a doce dor que lateja onde um coração de gelo repousa. Um coração que a muito tempo esquecera como bater.
Talvez não haja muitos outros amaldiçoados como nós, prisioneiros da revolta de ver os seus morrer e continuarmos aqui a sofrer, a beber do sangue e do tormento que o diabo oferece.
Amaldiçoados como nós, invisíveis até que ceifamos a vida de alguém até que sorvemos suas alegrias, seus prazeres, seu eu...e transformados em tristeza, dor e remorso, pois é disso que vivemos. É essa a nossa maldição.
A maldição que nos mantem vivos na morte.
E nas noites sombrias que atacamos, que destruímos...que vivemos a nossa maldição. A maldição de ser a mão esquerda do diabo, aquela que espalha o horror por onde passa enquanto o mundo dorme.
Dizer ' que Deus nos perdoe' chega a ser eufemismo de nossa parte, pois Deus não perdoa quando não se tem arrependimento.
Amaldiçoados como nós; desgraçados e desgraçando a tudo o que tocamos, como hienas rondando a carniça podre do humano que amaldiçoamos.
Amaldiçoados como nós.